A Procissão da Sexta-Feira Santa em Malta

Não há nada que se compare à experiência de participar de uma procissão da Sexta-Feira Santa em Malta

A multidão de devotos cristãos, as marchas fúnebres tocadas por bandas de metais ao vivo, os trajes elaborados e as estátuas detalhadas que representam a Paixão e a Morte de Jesus Cristo... não há nada que se compare à experiência profunda de participar de uma procissão da Sexta-Feira Santa em Malta e Gozo.

A Sexta-Feira Santa é uma ocasião religiosa observada pelos cristãos para comemorar a crucificação de Jesus Cristo na sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa. As Ilhas Maltesas são predominantemente católicas romanas, e a Procissão da Sexta-Feira Santa permanece até hoje uma tradição genuína, voluntária e devocional, semelhante às encontradas na Itália, Espanha, Porto Rico e Filipinas, sendo um dos principais eventos em Malta para se experienciar.

A Páscoa em Gozo e Malta é um evento grandioso. Na Sexta-Feira Santa, tudo para. É feriado público, todos os negócios estão fechados e o tráfego é desviado da maioria dos centros urbanos para dar lugar à grandiosa procissão.

Junte-se aos milhares de espectadores que se alinham nas estradas desde a frente da igreja ao longo do desfile. Os músicos da banda lideram o caminho, avançando centímetro por centímetro, estabelecendo o clima de tristeza com sua música. Meninos e homens, vestidos com trajes de pastores, camponeses e soldados romanos, seguem, segurando várias lembranças da vida e morte de Jesus. Banners em latim transmitem mensagens ao cristão devoto. E, um a um, várias estátuas grandes e adornadas passam pela multidão estacionária.

A primeira estátua, conhecida como 'L-Ort', que representa Cristo com um Anjo segurando um cálice e uma cruz, logo se aproxima. Passa e a atenção logo se volta para a segunda estátua se aproximando, 'Il-Marbut', que representa Cristo amarrado a uma coluna. Tradicionalmente, o conjunto de estátuas da procissão da Sexta-Feira Santa é composto por oito em particular, todas nomeadas. No entanto, ao longo do tempo, algumas aldeias incluíram estátuas adicionais, algumas bastante únicas. As procissões mais longas hoje são as das aldeias de Qormi e Zejtun, cada uma com doze estátuas.

Deixe-se transportar para o clima criado por devotos em oração e turistas surpresos à medida que a terceira estátua, 'L-Ecce Homo', representando Cristo usando a coroa de espinhos, passa. Ela é seguida de perto por 'Ir-Redentur', que representa Cristo carregando a cruz, e 'Il-Veronika', com Verônica segurando o pano com a face de Jesus impressa.

Uma voz feminina da multidão é ouvida dizendo: “Oh! Acredito que deve ser o nosso Joe! Acho que reconheço o relógio dele! É ele?” e então soluços abafados seguem o suspiro. A voz se refere à fileira de homens encapuzados que caminham pouco à frente da maior estátua da procissão. Eles estão vestindo túnicas brancas e capuzes pontiagudos com buracos para os olhos, lembrando o Ku Klux Klan. Essas pessoas, desejando permanecerem anônimas, arrastam correntes longas e pesadas pelos pés descalços como penitência. A dama parece convencida de que um dos participantes é um membro da família.

O restante da multidão também se surpreende ao ver a sexta estátua. Ela se aproxima muito lentamente, oscilando de um lado para o outro enquanto pesa sobre os ombros doloridos de seus carregadores. Seus rostos demonstram claramente a dor do peso da maior estátua de todas, 'Il-Vara l-Kbira', que representa Cristo na cruz, com sua santa mãe Maria, São João e Maria Madalena. Carregar essas estátuas durante a procissão, embora certamente um grande sacrifício, é uma grande honra pela qual esses homens estariam prontos para lutar com unhas e dentes.

No momento em que 'Il-Monumento', representando Cristo morto na Urna se aproxima, horas já se passaram. Ela é seguida pela oitava e última estátua, 'Id-Duluri', que representa a agonia de separação da Santa Mãe com São João e um anjo.

Tradicionalmente, em várias aldeias de Malta e Gozo, 'Id-Duluri' também é trazida em procissão uma semana antes da Sexta-Feira Santa, marcando o início da Semana Santa. Nessa ocasião, que leva o mesmo nome, essa única estátua é carregada ao redor da aldeia seguida por devotos recitando o terço. Em Malta, como em muitas culturas mediterrâneas, a Madonna ocupa um lugar especial nos corações dos católicos.

As primeiras procissões da Sexta-Feira Santa começaram com apenas uma estátua, tradicionalmente 'Il-Monumento'. No entanto, a estátua mais antiga de Malta é 'Il-Marbut' de Rabat, que tem mais de 400 anos e veio da Itália.

Hoje, as procissões da Sexta-Feira Santa são realizadas em quatorze localidades em Malta e sete em Gozo, cada uma com seu próprio conjunto de estátuas. Cada localidade tem sua característica especial, por exemplo, as estátuas de Birgu em Malta e de Victoria e Zebbug em Gozo estão vestidas com roupas de tecido.

A dedicação e devoção evidentes nas procissões da Sexta-Feira Santa são comoventes até para os não religiosos. Este evento tornou-se uma parte integrante da cultura maltesa, uma que parece muito improvável de desaparecer com o tempo.

O espírito da Sexta-Feira Santa permanece solene e grave, até o Domingo de Páscoa, quando é hora de festejar em celebração ao Cristo Ressuscitado triunfante sobre a morte. É tradicional celebrar com um sumptuoso Almoço de Páscoa na companhia de membros da família, para alguns após quarenta dias de jejum. E depois participar de mais
costumes locais associados ao glorioso Domingo de Páscoa...